Arquivo mensal: outubro 2013
Sobre pedras e bombas
Há uns dias, compartilhei no Facebook uma imagem de um policial chutando a cabeça de uma mulher, com a legenda “vândala ataca o pé de policial”. Compartilhei como se fosse uma caricatura, uma charge do Latuff, pois imaginei que a legenda era falsa (depois ficou provado que a imagem era falsa também). De qualquer forma, achei a mensagem muito boa: a regra número 1 deste nosso clube da luta cotidiano é que sempre se dá um jeito de pôr a culpa nos malditos vândalos.
Molho shoyu
Na fila do restaurante por quilo, um menino de uns 7 ou 8 anos me pede sem mais nem menos:
Brasil, Nação Chororô
O assunto deixou de ser as biografias. O assunto agora é outro: nosso eterno e indignado chororô way of life.
No Brasil, ninguém é famoso nem tem espaço na mídia. Pergunte a quem Procura Saber. Ninguém ali tem prestígio, poder, reconhecimento nem tampouco dinheiro para contratar excelentes advogados. São todos pobres artistas da música popular à mercê de biógrafos inescrupulosos que certamente não perderão a chance de caluniá-los.
No Brasil, ninguém é rico. Experimente perguntar àquele seu conhecido bem de vida que tem um BMW na garagem e dois apartamentos de um milhão cada. Ele lhe dirá que rico mesmo é o Antonio Ermírio de Moraes. Ele, não. Ele acorda todo dia às seis da manhã para pegar no batente e não tira férias há dois anos. Ele é apenas esforçado e trabalhador. Rico é outra coisa.
No Brasil, ninguém é latifundiário. Pergunte a qualquer deputado da bancada ruralista. Ele é apenas um produtor rural que tenta fazer o seu trabalho honestamente num pedacinho insignificante de terra. Latifundiários mesmo são os índios, que detêm 30% das terras do Brasil e são menos de 1% da população.
No Brasil, ninguém é racista. Aqui, não precisa perguntar a mais ninguém: basta perguntar a si mesmo. Eu? Como assim eu sou racista? Racistas são o Feliciano, o Walcyr Carrasco e o Bolsonaro, que tem um sogro “quase negão”. Já eu tenho amigos que são negões de verdade!
No Brasil, em suma, ninguém é privilegiado. Somos uma nação de coitadinhos sacaneados e vilipendiados – pelos biógrafos que não deixam nossa privacidade em paz, pelos índios que não nos deixam fazer hidrelétrica e plantar soja, pelos negros que não nos deixam passar no vestibular. E olha que nem cheguei a falar dos gays que não nos deixam ter orgulho hétero e das mulheres que não nos deixam fazer fiu-fiu!
Espero que os orixás não tenham piedade nenhuma de nós.
Nunca amamos nossos ídolos
Nuvens, amor e vida
1 minuto de silêncio pelos envelopes de depósito
Tá lá um envelope de depósito estendido no chão. Um não, vários. Inocentes envelopes de depósito, envelopes de bem que só queriam acolher um pouquinho de dinheiro, umas folhinhas de cheque. Agora estão lá, no chão, sujos e amassados, para sempre impossibilitados de cumprir a função que vieram desempenhar no mundo. Os envelopes de depósito, se você pensa bem, são muito mais significativos na vida de cada um de nós do que os manequins da Toulon. Quantos momentos significativos você viveu ao lado de um envelope de depósito? Teve aquela vez que você teve o louco ímpeto de desobedecer o mandamento de NÃO DESTAQUE, DOBRE e quis arrancar a parte superior do envelope. Teve aquela outra vez que a caneta não funcionava e você fez um sulco no envelope tentando escrever número de agência e conta. Na vida a gente perde muitas coisas, é fato. Por isso mesmo, é fundamental elaborar o luto por aquilo que realmente importa. Um minuto de silêncio, por favor, em respeito aos envelopes de depósito destroçados pelos vândalos.