Pareço de esquerda mas fiz um Plano de Metas 2014 semelhante ao célebre Plano Mão Aberta do FHC de vinte anos atrás, aquele com cinco itens. Naturalmente, o plano do FHC era muito melhor do que esse meu de agora, pois contava com a belíssima trilha sonora do Dominguinhos – se bem que nada lhe impede de cantarolar a melodia de Lamento Sertanejo enquanto você lê meus cinco objetivos para 2014:
COMER MAIS CARNE – o que, na prática, significa aprender a preparar carnes. Nem bife eu sei fritar, e boas almas já me disseram que é só pôr o bife na frigideira de um lado, pá, virar o bife do outro, pum, e pimba, tá pronto – e tudo bem, pronto até vai estar, mas ninguém quer comer um bife que esteja apenas pronto, o que todo mundo quer é comer um bife que esteja bom. Meus bifes nunca ficaram suculentos e por isso nunca me aventurei a preparar nenhuma outra carne exceto carne moída, mas carne moída é toda uma outra categoria de alimento – ela está para as demais carnes assim como o sabor morango da bolacha recheada está para o morango. Mas do ano que vem essa incompetência não passa: 2014 será o Ano de Todas as Carnes.
FAZER BOMBAS DE CHOCOLATE – Não tenho nenhuma lembrança culinária da minha mãe, o que quer dizer que só me resta construir uma eu mesma. Me disseram que ela fazia bombas de chocolate deliciosas e acho que já passou da hora de eu também aprender a fazê-las. Minha avó tinha um tio que desprezava abertamente mulheres que não sabiam fazer torresmo. Para ele, esse era um critério básico a ser preenchido por qualquer mulher que se pretendesse adulta – sobre as mulheres não versadas nas artes suínas, ele dizia “onde já se viu, tamanha mulher e não sabe nem fazer torresmo”. Substitua torresmo por bomba de chocolate e você terá uma ideia aproximada do que tenho pensado a respeito deste doce e de minha incapacidade de fazê-lo. Em 2013, começou a me parecer inconcebível que eu, tamanha mulher, não saiba fazer bombas de chocolate. Em 2014, corrigirei essa minha falha de caráter (mas a fatura de torresmos ficará para outra oportunidade).
LER MENOS – Eu leio o dia inteiro. E quando você passa o dia inteiro lendo, inevitavelmente você lê muita bobagem. Além disso, lê muita coisa que não interessa. Em 2014, em vez de ler aquela reportagem sobre o aumento dos juros, sobre o furacão em terras distantes, sobre a eleição em terras próximas, tentarei dormir. O sono revigora, rejuvenesce e acalenta: já a leitura das palavras “segundo turno” só traz desolação, choro e ranger de dentes.
ASSISTIR MAIS TV – Meta complementar à anterior. Lendo menos, sobra mais tempo para fazer coisas realmente importantes, como acompanhar séries de televisão. As séries de televisão são uma das coisas mais legais da nossa época – eu diria mesmo que só não são melhores do que saneamento básico e água encanada – e acho um desperdício deixar de vê-las só porque (dizem) televisão atrofia o cérebro. Suponhamos que de fato atrofie. Pois eu digo que a atrofia cerebral é um preço barato a se pagar pelo prazer de ver o desenvolvimento de certos roteiros ao longo de episódios e temporadas a fio.
FICAR MENOS GRIPADA – Esta não é propriamente uma meta, é mais um desejo, um fazer-figas, um pai nosso que estais nos céus, abençoado seja iadaiadaiada plmdds não deixe o vírus me pegar. De criança, eu ficava meio borocoxô quando os adultos desejavam “saúde em primeiro lugar” em aniversário e ano novo – saúde, pfff, quem quer saber de saúde, o que eu queria mesmo era amooooor. Hoje, longe de mim desprezar o amor, mas se for possível vivê-lo sem tossir, sem assoar o nariz e sem arder de febre, tanto melhor. Em 2014, se eu passar menos de três meses gripada, já estarei no lucro em relação a este ano.
Para resumir, desejo que o ano novo seja repleto de carnes e chocolates, boas séries de TV e poucas notícias que não levam a nada – e que tudo isso seja desfrutado em plena saúde.
Acho que meu Plano de Metas ficou tão bom que nem me importo se você quiser copiá-lo.