A um dia da Copa, e sem que ninguém tenha me perguntado, gostaria de esclarecer o sentido pessoal e particular que dei ao #NãoVaiTerCopa
#NãoVaiTerCopa, para mim, nada tem a ver com “tem que ter escola e hospital em vez de estádio”. Em primeiro lugar, porque se você me perguntar quais são as duas áreas que mais precisam de uma revolução gigante e imediata no Brasil, eu responderia saneamento básico e segurança pública, não saúde e educação (embora, claro, na prática seja preciso fazer tudo ao mesmo tempo). Mas, acima de tudo, a ideia de que o Brasil só poderia sediar uma Copa do Mundo depois que tivesse dado conta de “questões maiores e mais sérias” revela apenas um profundo esquecimento (não vou dizer desconhecimento porque é impossível que um brasileiro não saiba disso) da importância do futebol no e para o Brasil.
Futebol não é coisa menor. Futebol é parte fundamental da construção da subjetividade, da socialização, do desenvolvimento cognitivo das crianças (nem vou entrar no que o futebol significa para os adultos). Essa ideia de que escola é intrinsicamente mais importante que futebol recobre uma ideia anterior e perversa de que trabalho é mais importante que lazer; de que “disciplinas sérias” como português e matemática são mais importantes do que esporte e arte. Não são, e por isso eu jamais criticaria a Copa do Mundo com o argumento de que precisaríamos nos concentrar em assuntos teoricamente mais sérios e importantes. Copa do Mundo já é um evento suficientemente sério e importante para mim.
Minha crítica, portanto, é outra.
#NãoVaiTerCopa, para mim, nada tem a ver com fazer figas para que estádios não fiquem prontos. É precisamente o contrário: é a revolta com o fato de que não ficaram. De que foram superfaturados. De que alguns deles são elefantes brancos. De que pessoas pobres dificilmente terão dinheiro para frequentá-los depois da Copa (para não dizer durante ela).
Acima de tudo, #NãoVaiTerCopa é a revolta com as violações de direitos humanos que aconteceram para que obras da Copa fossem realizadas (sobre as quais há farta documentação).
#NãoVaiTerCopa não é “torcer para que tudo dê errado” – é reconhecer que aquilo que mais importa *já deu* absurdamente errado. Que obras foram superfaturadas. Que pessoas foram ilegalmente removidas de suas casas. Que a FIFA deitou e rolou.
Não vai ter Copa – embora eu gostaria que tivesse havido.
Não vai ter Copa – mas Exército na rua certamente não vai faltar.
Olá, tudo bem?Muito bacana seu texto sobre a copa! Eu me cadastrei para receber seus posts há um tempo atrás sabe.. pude perceber que tem a aba de “twitter” ali no canto, há algum tempo eu venho querendo colocar esse plugin no meu blog wordpress mas não consigo, pede uma tal de “secret key” será que pode me dizer qual plugin é e como fez pra configurar? Se for possível, claro
Obrigada. Date: Wed, 11 Jun 2014 15:03:07 +0000 To: franwaltrick@hotmail.com
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Camila
Você já deve ter escutado diversas vezes alguma variação do que eu pergunto agora, me desculpe
Essa revolta alcança todos os “equipamentos” aos quais os pobres não tem acesso?
(Teatros, casas noturnas, restaurantes chiques, fórmula-1, resorts etc.)
Ou, sem ironia, só remete aos “equipamentos” do “lulopetismo”?